domingo, 5 de fevereiro de 2012

Sobre ousar


‎ "Não é porque certas coisas são difíceis que nós não ousamos. É justamente porque não ousamos que tais coisas são difíceis", esta frase do filósofo romano Séneca, me rondou a cabeça semana passada, quando uma amiga repentinamente me convidou para embarcar em uma aventura. A missão: participar da Mostra de Cinema de Tiradentes. Detalhe: não tínhamos mais do que alguns trocados em nossos bolsos que não nos levariam até a esquina, quiçá a uma cidade à 170 km.

Mas o fato é que a proposta era sedutora. Essa amiga logo se utilizou da filosofia hippie segunda a qual a liberdade não tem preço e esse argumento mais a afirmação de Sêneca derrotaram o meu receio. Enchi meu peito de juventude e aceitei a aventura. Assim, horas depois estávamos na estrada em busca da carona que nos levaria a nosso destino tão sonhado.

Conseguimos uma carona de um sujeito simpático que nos levou muito além do que queríamos. Solícito, ele não só nos ajudou com o transporte, mas também nos aconselhou acerca do melhor lugar para pegar uma ultima carona que nos deixaria em São João Del Rei, cidade ao lado de Tiradentes.

Quando descemos do carro nos vimos no meio do mundo, longe de qualquer lugar conhecido ou de qualquer casa amiga. O medo imediato foi logo substituído pela euforia de se sentir livre. Estamos diariamente ligados a uma rotina e obrigações que nos tomam não só o nosso tempo, mas também nossa energia. Naquele momento, na beirada da BR 040, em um lugar indeterminado, desconhecido para mim e para minha amiga, éramos livres.

Conseguimos outra carona com um caminhoneiro. De início o velho receio voltou, mas logo espantados, conhecemos uma ótima pessoa, pai de uma menina de oito anos, Miguel – caminhoneiro - era muito educado e alegre, logo tinha contado sua vida inteira, inclusive a fase da sua vida em que tivera uma banda e tocava musicas de rock dos anos 80s, como RPM.

Chegamos a São João Del Rei e encontramos uma amiga que nos abrigou. Passamos três dias maravilhosos por lá. Íamos todo dia para Tiradentes, uma cidade que por si só já é um espetáculo, e com a mostra reluzia ainda mais. Conhecemos pessoas e lugares diferentes que nos deixaram maravilhados.

Penso que o que Sêneca quis dizer é que passamos tanto tempo dentro de nossas casas e prédios sonhando com o que gostaríamos de fazer, que esquecemos que a única coisa melhor que sonhar é realizar estes sonhos, mas colocamos tantos empecilhos para ação que ficamos estagnados.

Não faço apologia a uma vida desregrada, até por que o perigo muitas vezes é real, pegar carona nem sempre é seguro, sair de casa sem tostão no bolso também pode gerar sérias dores de cabeça, mas acredito sim, que por vezes, temos que se entregar ao desconhecido e alcançarmos o que queremos. O preço que a vida pede é a coragem.

E tenho o prazer e a sorte de trabalhar onde eu vejo de forma mais palpável tudo isso que escrevi acima, pois a TV UFOP se serve da criatividade para fugir daquele lugar comum, que outras TVs convencionais acabam caindo. Vejo a coragem de dar voz a todos que trabalham aqui, sem distinção de cargo, idade ou formação, vejo seriedade aliada a alegria. Aqui é como a BR 040: um terreno fértil para ideias onde todas as possibilidades estão abertas e, ao invés de te prender, te fazem ir além.

Lucas Santos Lima
Núcleo de Difusão

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