terça-feira, 3 de abril de 2012

Millôr, a vida e o riso


Na terça feira, dia 27 de março morreu Millôr Fernandes, apesar da repercussão promovida pela mídia, com pequenas notas e biografias que pipocaram pela internet, seguindo a tradição dos óbitos, nada de mais ao grande público, possivelmente, vai apagar da memória todas essas façanhas da vida desse homem.

É pouco para o tamanho do gênio que era Millôr, nascido Milton Viola Fernandes. É bem possível que uma nova geração nem saiba de quem se trata e quando lerem o escrito acima vão achar exagero pedir mais atenção para o caso. Quando afirmamos que Millôr era um grande escritor, dirão que a academia de letras está cheia deles. Era cartunista, grande coisa, dirão em seguida, no domingo o jornal vai continuar saindo com as velhas tirinhas. Dramaturgo? O mundo tem um monte deles. Filósofo? Há séculos que eles estão por aí e mesmo quando eu lembrar que ele era tudo isso em um só, talvez ainda soe estranho, já que este homem não se expôs nos chamados, horários nobres. Acrescente-se que o velho autor repetia sempre: “Não sou nada”, causando mais espanto nestes tempos em que o “ser-tudo” vige sem cerimônia ou modéstia pelos velhos e novos canais de comunicação.

Os heróis de hoje são outros, produzem façanhas de uma natureza diferente, são jogadores de futebol, “artistas” de reality show, cantores de profundidade duvidosa, enfim uma fauna interminável que habita as manchetes dos jornais e outros meios. Por isso decidimos escrever esse texto não para quem conhece o tamanho do ser humano que era Millôr, pois estes já o admiram com certeza, mas para quem nunca ouviu falar de tal sujeito.

Vamos começar pela infância: nascido no Méier em 16 de agosto de 1923, foi registrado só no ano seguinte. Logo cedo já mudou de nome devido a uma assinatura duvidosa na certidão que fez muitos acreditarem que o Milton era mesmo Millôr . Logo cedo perde o pai. A mãe, Maria Viola Fernandes, fica com quatro filhos para sustentar e para tanto trabalha de costureira, como desgraça pouca é bobagem, Maria morre quando Millôr tem doze anos e já com essa idade tinha publicado um desenho n’O Jornal.

Com quatorze já estava trabalhando em uma das maiores revistas do país, O Cruzeiro, em três funções diferentes. Nessa mesma época ganha um concurso de contos da revista A Cigarra, logo em seguida começa escrever a seção “Poste escrito”, sob o pseudônimo de Vão Gogo, daí para frente ele começa acumular funções.

Logo, além de jornalista de renome e ilustrador, começa traduzir textos de forma autodidata, além de escrever peças de teatro e ganhar Prêmios por essas atividades. Poderíamos preencher todo o espaço desse texto enumerando os talentos deste homem, mas como citado acima, esse texto é voltado para um público que não conhece Millôr.

O fato é que esse mesmo homem quando foi aos Estados Unidos fez contato com Carmem Miranda, Walt Disney e Vinicius de Morais, participou da criação e implantação frescobol no Posto 4, Rio, fundou um dos maiores jornais do país com um monte de amigos de mesa de bar, o antológico Pasquim. Millôr também correu até alta idade, fez piada da Ditadura, isso durante os “anos de chumbo”, mas principalmente ele ensinou que o importante é rir, seja de si mesmo ou dos outros, seja da sociedade ou do governo, que levar a sério a vida torna as pessoas mais ranzinzas e mesquinhas.

Lucas Santos Lima
Núcleo de Difusão

Adriano Menezes
Roteiro

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